O Alvarinho e a Portugal Telecom

Se foi esta cena que levou os portugueses a convencerem-se de que Pires de Lima estava com um grão na asa na Assembleia da República, a verdade é que o Alvarinho teve outros momentos em que demonstrou que não tem condições para suportar testes de stress e, por conseguinte, para ser ministro.

O que disse em relação à Portugal Telecom (PT) é um exemplo disso. Num gesto algo infantil, apareceu com um papelucho amarrotado a responsabilizar os governos anteriores pela situação crítica em que está a PT. Acontece que uma simples observação do historial da empresa desmente as efabulações do Alvarinho. Veja-se:

• Quando o Governo de Passos & Portas assumiu funções, a cotação das acções da PT estava em 6,8860 euros , sendo agora de 1,2170 euros;

• Cerca de um mês depois de o Governo ter tomado posse, os direitos especiais (a golden share ) que o Estado, enquanto accionista, detinha na PT (assim como na EDP e na Galp) foram eliminados pelo Decreto-Lei n.º 90/2011 , de 25 de Julho, na sequência de deliberação tomada a todo o vapor no Conselho de Ministros reunido em 5 de Julho de 2011, decisão que, hoje em dia, até o Prof. Marcelo questiona;

• Foi no dia 2 de Outubro de 2013, já o Alvarinho havia substituído o Álvaro na pasta da Economia, que a PT e a Oi comunicam a combinação dos seus negócios (cf. documento intitulado «Consolidação da aliança industrial entre a Oi e Portugal Telecom »);

• Foi no dia 9 de Setembro de 2014 que os accionistas da PT aprovaram os termos da fusão com a Oi ;

• Foi na vigência do actual governo que a PT se deixou atar de pés e mãos pelo Grupo Espírito Santo , como é salientado num relatório da comissão de auditoria interna de Julho de 2014, ao aplicar praticamente na totalidade os excedentes de tesouraria em empresas daquele grupo [«a partir de 2012 “assiste-se a um aumento da concentração” no GES, agora de 85,9%, aproximando-se em Maio de 2014 dos 100% (98,35%)»].

Sem estratégia para a economia portuguesa, obrigado a engolir pela Miss Swaps o IVA da restauração e sem perceber patavina do que estava a acontecer a uma das maiores empresas a operar em Portugal, o ministro da Economia apresentou-se manifestamente diminuído na Assembleia da República. Fingir-se tocado e imputar responsabilidades aos governos anteriores foi a escapatória possível. No fundo é isto: se Vítor Gaspar tinha o Álvaro, o «soldado disciplinado» Pires é o Alvarinho da Miss Swaps.

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