2012-03-16

Um problema geracional

Ao pensar no que está a suceder em Portugal não podemos deixar de associar algumas das coisas mais negativas a que assistimos a um problema geracional. Ou melhor: também a um problema geracional. Durante algum tempo quiseram passar a ideia de que a causa profunda do problema era não existir correspondência entre gerações empreendedoras sub-50 e as gerações acomodadas e gastadoras sobre-50. Se a mensagem se dirigia a José Sócrates (JS) nada de mais errado e impreciso. JS sempre se rodeou dos tais sub-50 para tudo e mais alguma coisa. Só quando foi necessário legitimar, em termos históricos, alguma insuficiência ou quando necessitou de recorrer ao financiamento partidário não hesitou ir para os braços dos banqueiros e outros empresários do costume, todos já um pouco mais velhos e experientes.

Com Passos Coelho (PC) tudo se passa de modo muito semelhante: a influência de Ângelo Correia, um insuspeito geronte social democrata, foi marcante. E os financiamentos tiveram, decerto, as mesmas origens que os financiamentos a JS. A estratégia e a tática política foram avidamente bebidas dos exemplos de JS. De tal modo assim foi que, em determinado momento, se chegou a duvidar de que os portugueses optassem por uma cópia de qualidade inferior. Assim aconteceu.

Há, no entanto, um problema geracional. Há pessoas de uma geração que sempre viveu de e para a política que decidiram imitar aqueles que, mais velhos, retiraram tudo o que foi possível retirar para si e para os seus, sabendo que as pensões de reforma estariam, a prazo, condenadas a desaparecer. Há pessoas que concluíram os seus cursos superiores fora do tempo, dito, normal e em condições de grande fragilidade, só para depois poderem esgrimir títulos académicos. Quando muito pouco mais haveria para esgrimir. Há pessoas que não quiseram ficar na história nem fazer história. Apenas quiseram seguir o caminho antes trilhado por outros, com o objetivo de tirar proveito próprio da situação de vulnerabilidade do Estado.

Há um problema geracional. Todas as individualidades consideradas sérias e competentes deixaram o caminho livre para que estes estranhos personagem e os seus braço tecnocráticos mais ou menos ingénuos tomassem conta da casa. De forma voluntária muitos deram o seu voto de confiança a um grupo que desconheciam enquanto protagonistas mas de quem não tinham má impressão enquanto atores secundários.

Há um problema geracional quando sabemos que o discurso que está a ser hoje utilizado não tem qualquer substância ou fundo de credibilidade. Só uma geração que se habituou a conviver com a irresponsabilidade pode ser veículo de um tal discurso.

Há um problema geracional quando percebemos que Portugal atravessa atualmente talvez a maior provação dos últimos trinta anos (ao contrário dos discursos oficiais e oficiosos isto que vivemos não é nem uma crise nem um desafio). E os portugueses escolhem para os governarem os piores exemplos do que representa a sua geração. Como alguém dizia: “Escolheram os piores de nós!”. Podíamos ter escolhido os melhores mas fizemos exatamente o contrário. Podíamos ter escolhido os que estiveram longe das causas do nosso mal mas fizemos o contrário.

Temos um problema geracional.

Sem comentários:

Enviar um comentário